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    A porta de seu gabinete aberta assustou o senhor Tener, afinal apenas ele tinha permissão e é claro a chave para entrar em seus aposentos. Mas a real surpresa se deu ao adentrar o ambiente, quando para sua surpresa, encontrou um homem de costas, observando sua estante de livros.

    - Quem é você?! - Exclamou Tener de forma imponente, mas um pouco desconcertado ainda, visivelmente frustrando sua tentativa de intimidar a visita.

 

    - Ah! Olá Tener, como vai? - O homem se virou muito feliz, com um largo sorriso mostrando seus belos dentes brancos. Mesmo sendo do tipo que afirma sempre que possível sua masculinidade, Tener admitiu para si mesmo, no momento que seus olhos encontraram com os do intruso, que provavelmente ele era o homem mais bonito que ele já havia visto. Alto, com pelo menos 1,85 metros, o homem vestia um elegante terno que apenas exaltava seu esplendor, e mesmo estando abaixo dele, era possível saber que ali existia um corpo atlético. Não devia ser realmente, mas de fato parecia jovem, talvez entre 35 e 37 anos. O brilhoso cabelo loiro parecia até uma obra de arte combinado com a cor daqueles olhos, olhos azuis, mas não um simples azul, olhá-lo era como ver o céu e o mar ao mesmo tempo, era profundo mas também leve. Tener não se deu conta, mas sua boca estava centímetros aberta. Então o homem prosseguiu enquanto se aproximava dele.

 

    - Você está um pouco atrasado, não está? Deveria ter chegado a umas duas horas atrás. Mas não tem problema, paciência é uma das minhas virtude - O homem sorriu novamente, e Tener finalmente se deu conta que sua boca estava aberta. Ligeiramente constrangido, ele não viu outra saída a não ser inflar o peito, para provar ser um homem tão imponente quanto o estranho, e questionar:

 

    - Como você entrou aqui?

 

    - Pela porta, é claro.. Mas, você ainda não fez a pergunta que realmente importa.. Quem sabe na terceira tentativa? - Parando finalmente de andar, o sujeito agora estava a menos de um metro de Tener, que agora suava um pouco frio, o peito inflado não funcionou, quem estava intimidado era ele, e percebendo isso, ele recuou alguns passos.

 

    - O que você quer?

 

    - Bingo! Eu sabia que na terceira você iria conseguir! - O homem realmente comemorou a resposta, e esticando a mão na direção de Tener, que fez apenas esquivar, já que estava entre ele e a porta do bar. O homem apenas pegou a garrafa do whisky, não qualquer whisky mas sim o mais valioso do bar, abriu e serviu duas doses, como um elegante cavalheiro, entregou um deles a Tener.

 

    - Tener, eu quero férias! - Após Tener pegar a taça, o homem colocou a mão no ombro dele, e sem entender, agora abraçados, caminharam lado a lado conduzidos pelo estranho, até próximo de uma das poltronas.

 

    - Eu estou cansado Tener, trabalho muito sabe? Muito mesmo.. E o trabalho é pesado, preciso de férias! Já fazem milênios que não as tiro, acredite! Até eu tenho meus direitos.

 

    - E o que eu tenho a ver com isso? - Tener não estava entendendo nada, agora só conseguia pensar que o homem devia ser maluco. Estava com medo dele ser um psicopata ou algo do tipo.

 

    - O que eu tenho a ver com tudo isso? - Disse enfim Tener, com a boca já seca de ficar sem falar.

 

    - Você? Ora Tener, você vai ficar no meu lugar!

 

    - O que?! Como assim? - Tener finalmente deu um grande gole em seu Whisky.

 

    - Hora Tener, convenhamos.. Não existe ninguém melhor do que o presidente do Brasil, para substituir o Diabo!

 

    O Whisky presente na boca de Tener, rapidamente passou a decorar o ar, quando então ele disse:

 

    - Que tipo de louco pirado você é?!

 

    - Tener, sente-se.. - Esticando a mão na direção da poltrona, a mesma escorregou como mágica ao encontro das pernas de Tener, derrubando-o sentado nela. Então ele prosseguiu:

    - Você não ouviu errado, amigo.. Sou eu, Lúcifer..

 

    Tener até tentou iniciar uma resposta, mas o homem rapidamente o interrompeu falando:

 

    - Está certo Tener, eu imaginei que não seria tão fácil convencê-lo, então deixe-me provar - Estalando os dedos outra poltrona surgiu para ele também se sentar. Então prosseguiu:

 

    - Se lembra da vez em que subornou o vereador Edinaldo?

 

    - Sim.

 

    - Pois então, fui eu que o tentei. E da vez que o Juiz Ronaldo te absolveu?

 

    - Lembro, mais, mas ninguém sabe disso - Tener estava em choque.

 

    - Eu sei, sabe por que? Por que eu Tener, que corrompi o Juiz.

 

    - Ok! Eu acredito! Você é o Diabo. - Tener não queria, mas teve que aceitar, entendendo que se fosse preciso o Diabo iria ficar até amanhã listando suas corrupções.

 

    - Ótimo! - Satisfeito o rei do Inferno então prosseguiu:

 

    - Tener, você é O cara para o serviço, e olha que eu pensei muito antes de ter certeza. Venho te acompanhando a anos, e acredite em mim não foi difícil de me decidir. Admito que ainda estava em dúvidas entre você e Charles a algum tempo atrás.. - Tener o interrompeu:

 

    - Augusto?

 

    - Não, Manson..

 

    - Ah!

 

    - Mas ele morreu, então não tive mais dúvidas. Além de que, você é muito bom em tudo que faz Tener! Mereceu chegar até aqui! Tenho certeza que não vai recusar uma oferta como esta..

 

    - E o que eu teria que fazer? - Tener realmente começou a imaginar, talvez fosse de fato, interessante.

 

    - Essa é a melhor parte Tener! - Disse o Diabo entusiasmado. - Você apenas precisa fazer tudo que já faz, mas em uma escala maior!

 

    - Como assim?

 

    - Ora Tener, não precisa se fazer de santo pra cima do Diabo.. - O brilhoso sorriso ainda o surpreendia. O Diabo então continuou:

 

    - Apenas continue roubando, você é bom nisso! - Tener não pode esconder, mesmo abaixando a cabeça, um pequeno sorriso no canto da boca. O Diabo riu, e bebeu um longo gole do Whisky antes de continuar.

 

    - Tener, continue comprando as pessoas com subornos, mas agora não apenas metaforicamente e sim de fato compre a alma delas! - Tener estava começando a gostar, então o Diabo estendeu a mão e perguntou:

 

    - O que me diz? Topa?

 

    Não foi preciso mais que um segundo, para aquele aperto de mãos selar o acordo, o Diabo enfim conseguiu suas férias tão desejadas, mas o Brasil não sentiu diferenças, já que sempre foi um inferno, só faltava mesmo ter um Diabo.

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