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O Aviso (Com Spoiler)


Dirigido pelo Espanhol Daniel Calparsoro, e distribuído pela Netflix, O Aviso é um suspense, que na minha opinião, se acha muito mais do que realmente é, acreditando demais no potencial de um mistério mal explorado e pouco explicado.

A Obra é baseada em um livro de mesmo nome, a qual não posso dar opinião, pois não o li, então essa resenha é baseada unicamente na minha experiência com o filme.

Sabe aquela expressão: “A ideia é boa, mas foi mal executada?” - Não foi esse o caso, talvez o livro trabalhe melhor o conteúdo apresentado pela trama, mas ao final do filme, essa foi a minha conclusão.

A ideia parece ser interessante na primeira metade do longa, quando o personagem principal, Jon, um esquizofrênico que acabou de sair de um período de internação, busca seu amigo David para levá-lo ao encontro da namorada, que ao longo do filme descobrimos que teve um relacionamento com o próprio Jon.

A trama então começa de fato, quando ambos chegam até um posto de gasolina, onde David vai até a conveniência comprar gelo, a pedido da namorada. Lá dentro, além dele, se encontra um garoto de 10 anos, o dono da loja com 53 anos e um Russo com 42. Você deve estar se perguntando o porquê, de eu estar comentando as idades, algo que normalmente é irrelevante, mas não aqui, mais para frente vou explicar essa parte. É quando David se encontra dentro da conveniência, que um carro com um jovem de 21 anos chega até o posto, ele desce do carro armado e entra na conveniência disparando contra David e o Russo, e em seguida vai embora. Apavorado, Jon entra na loja para socorrer seu amigo, nesse momento ele é surpreendido pelo Russo, agora armado, que tendo levado o tiro de raspão, foge. David é encontrado inconsciente por Jon, que chama o socorro, terminando com seu amigo internado em coma.

Nesse momento, o filme pula 10 anos, chegando até o presente em 2018, quando apresenta o segundo personagem mais importante, Nico, um garoto de 10 anos que sofre bullying na escola. Ele é apresentado em frente ao mesmo posto de gasolina, que fica no seu trajeto da escola para casa, quando três garotos (os agressores do bullying contra Nico), contam que a 10 anos atrás houve um assassinato ali.

A trama segue esta linha, apresentando intercaladamente passado e futuro, mostrando os passos de Jon e Nico. Essa troca de tempo é muito bem trabalhada e acontece de forma muito interessante, mostrando semelhanças entre os personagens, como quando Jon está trabalhando com cálculos, e a cena troca para Nico na sala de aula, realizando exercícios de matemática.

Jon então descobre ao ler em um jornal, que a 32 anos no passado, no mesmo posto de gasolina, houve um atentado que levou a morte de outro homem. Devido a coincidência ele resolve pesquisar sobre, e descobre que as mortes ocorreram no dia 12 de abril, e que também outros casos envolvendo assassinato, aconteceram no mesmo local, com um intrigante detalhe, em todos eles estavam presentes 5 pessoas, com exatamente as mesmas idades dos 5 presentes no atentado ao seu amigo David.

O filme segue mostrando Jon investigando as coincidências dos casos, e durante a investigação sofrendo lapsos de esquizofrenia, por ter parado de tomar seus remédios. Enquanto de maneira pouco interessante, mostra Nico sofrendo bullying na escola.

Acabamos descobrindo que Nico e Jon nasceram no mesmo dia dos atentados, dia 12 de Abril, e então o filme tenta nos aprofundar mais nos personagens, mostrando seus dramas pessoais. O longa anda rápido devido a curta duração de uma hora e meia, e logo o protagonista resolve “Explicar” o que já estava praticamente desvendado para aqueles com olhares mais atentos. Ele mostra que os atentados seguem uma ordem, referente a idade de cada um dos 5 presentes.

Ezequiel, o primeiro a morrer, com 53 anos em 1913.

42 anos depois, em 1955 morre um homem de 42 anos.

21 anos anos depois, em 1976 morre um homem de 21 anos.

32 anos anos depois em 2008, enfim David, de 32 anos, leva o tiro.

Seguindo a lógica, faltando apenas os 10 anos entre os 5, um garoto de 10 anos irá morrer em 2018, e se você obviamente está pensando em Nico, você está certo.

Porém é após apresentar todas as “regras”, que o filme se estraga. Depois de descobrir e entender todos os acontecimentos na primeira metade da trama, Jon passa a segunda metade sem entender por que com David, a data não foi a mesma, já que o atentado ao seu amigo foi dia 2 e não dia 12. A explicação encontrada por Jon então, é que David ainda está vivo, em coma, e para ele isso é provado no momento em que o irmão de David decide desligar os equipamentos no dia 12, quando finalmente Jon morreria e tudo iria se encaixar. Ou pelo menos era o que poderia ter acontecido, e faria com que o filme respeitasse suas regras.

Ao invés disso, no entanto.. Jon, por algum motivo não explicado no longa, assume que todas as pessoas que morreram no dia 12, são na verdade as mesmas pessoas, em vidas diferentes, porém isso é apenas um crença do protagonista, quando de forma alguma e por motivo algum é explorado de maneira realmente importante. E finalmente no ato final do longa, o protagonista decide que deve salvar a vida do garoto, que será a vítima 10 anos no futuro, de algum jeito, ja que para ele, o garoto é David reencarnado.

O problema é que como já sabemos, o garoto é Nico, que nascera naquele mesmo dia. A maneira encontrada por Jon, para solucionar o problema, é ir até a loja de conveniência e deixar uma carta com o dono, carta que Jon diz que deve ser entregue naquele mesmo dia, 10 anos no futuro, para um garoto de 10 anos.

Vamos então ao grande plot do filme.. Após desligarem as máquinas que mantinham David vivo, ele não morre, e como um milagre, ele acorda. Sendo avisado pela namorada de David, Jon descobre e encaixa as últimas peças, o dia finalmente é dia 12, existem 3 pessoas além dele na loja, e ele é o homem de 32 anos que irá morrer, para o ciclo fechar, assim que o possível atirador chegar.

Aqui neste ponto, o filme que já me incomodava, finalmente perde total credibilidade para mim. O problema não foi simplesmente a troca de “alvo”, o problema é que para o plot existir, o roteiro teve que incluir um evento EXATAMENTE igual, com EXATAS 5 pessoas, e com EXATAS mesmas idades, acertando David no início do filme, e que em nada tinha relacionado ao ciclo. Ou melhor, o roteiro criou um evento, para nos enganar o filme inteiro, e no final dizer: “Sabe aquele atentado que fez David entrar em coma no início do filme? Pois é.. Esquece aquilo, que não tem nada a ver.”

Sério!?

Mas não termina por aí.. O longa mostra que é uma piada no final, quando após provar com a morte de Jon, que não importa o que aconteça, o ciclo é perfeito, e que sempre acontece a morte que deve acontecer, ele simplesmente resolve acabar com o ciclo. Nico está 10 anos no futuro de Jon dentro da loja, existem 4 pessoas com as corretas mesmas idades junto dele, um tiroteio inicia, e balas passam raspando sem atingir o garoto (Mas isso acontece, apenas depois de uma falha tentativa de dramatizar a cena com uma camêra lenta para aumentar o suspense). E por fim, o garoto fica vivo, sem nenhum arranhão.

Conclusão, o filme criou um ciclo perfeito, para na última cena, olhar para o espectador e dizer: “Não, a gente tava só brincando mesmo.. O garoto não vai morrer, e o ciclo não vai fechar, fazendo TUDO o que aconteceu nos outros casos, não fazer sentido algum”.

O filme então termina, com a morte de Jon, e o nascimento de Nico, provando que ambos são a mesma pessoa em diferentes vidas.

O pior é que o filme não tenta nem se explicar, não é mostrado em nenhum momento o por que do ciclo existir. O protagonista nem mesmo cria teorias para isso, ele apenas descobre a lógica do ciclo, e então assume que “Ok”, isso acontece e PONTO.

Lamentável é a palavra final. Acredito que, se o filme tivesse tido coragem de matar o garoto ao final da trama, o mesmo teria conquistado mais credibilidade, o ciclo pelo menos teria fechado, ao invés de se sabotar.

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