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Cobra Kai (Com Spoilers)

No momento em que vi o primeiro trailer de Cobra Kai, eu já fiquei empolgado, a série que de maneira corajosa e inovadora prometia focar na vida de Johnny Lawrence, o vilão do primeiro Karatê Kid, acendeu um grande sentimento de nostalgia em mim, e mesmo sem saber que isso um dia existiria, foi que ví que essa série, era o que o meu Eu adulto precisava.

Karate Kid foi um filme que marcou uma geração inteira, todos aqueles que assim como eu, que nasceram antes dos anos 2000, graças a este filme, desejavam aprender artes marciais, e imploravam para os pais, para entrarem em uma escola de karatê.

Muito tempo se passou, a franquia já desgastada com 3 sequências enfim foi esquecida, e apenas no ano de 2010, com um Remake (Kung Fu Kid kk) foi ressuscitada, infelizmente (Ou talvez felizmente), mesmo com um elenco de peso, não cativou.

Como consequência, a franquia voltaria para a geladeira, onde ficaria por mais longos 8 anos, para então de maneira genial, em 2018, o Youtube nos trazer esse “chute” na cara, que se chama Cobra Kai.

Nessa onda de resgates de clássicos, talvez Cobra Kai seja a franquia que melhor surfou, já que diferente das outras, a série fez mais do que apenas um “Copia, só não faz igualzinho”.

O primeiro grande acerto, é na utilização do elenco original, trazendo William Zabka (Johnny Lawrence) e Ralph Macchio (Daniel Larusso), acendendo uma gigantesca nostalgia, e um insano desejo de ver esses dois lutando novamente, em uma revanche de Johnny.

O segundo acerto, que na minha opinião é o maior deles, e também o grande diferencial da série, é trazer como protagonista, não Daniel Larusso (Protagonista da franquia original), mas sim Johnny Lawrence, o vilão.

A genialidade dessa escolha, é justamente saber que Johnny é sim um personagem muito mais profundo, complexo e óbviamente menos explorado, do que Daniel. As possibilidades levantadas com essa escolha, são infinitas.

Claro, um elenco e uma premissa como essa não seriam suficientes para criar uma boa série, bem pelo contrário, entre infinitas possibilidades, existem também as ruins, e é então que Jon Hurwitz, roteirista e diretor, deve receber novamente os parabéns. Ele conseguiu ver o quão traumatizado Johnny poderia ter sido durante sua vida, e como o karatê deveria ser o seu único refúgio, que como sabemos, foi destruído após o fim do primeiro filme, e transformou isso nessa belezinha.

Com base na ideia de que, tendo se passado 34 anos, Johnny acabou virando um alcoólatra, com pobres lições de vida, levando um dia a dia mediocre, e sem futuro, deixando isso bem claro no primeiro episódio, onde vemos um homem derrotado, um pai ausente e endividado. Em contrapartida, temos Daniel com sua vida bem sucedida, dono de uma revenda de carros de luxo, e com uma bela família. A série não perde muito tempo aqui, e com dois episódios já nos mostra os dois lados do jogo, o objetivo é mostrar como Johnny, que após perder o carro, e acabar encontrando o rival, tem a chance de dar a volta por cima, além de nos mostrar como Larusso, mesmo sendo um bom homem, também pode ser um babaca, como todos nós também somos às vezes.

O foco da série com toda certeza, como já dito, está no drama da vida de Johnny, e com alguns flashbacks, podemos ver como a vida com o padrasto foi difícil, e como isso refletiu em quem ele se tornou. Mas mais do que isso, a série mostra que os problemas não ficam só no passado, e descobrimos que ele tem um filho de 16 anos, e que de fato, nem pode se considerar pai do garoto, já que o abandonou com sua mãe no primeiro dia.

Não posso deixar de falar da incrível trilha sonora, que desde o primeiro episódio nos anima com músicas como Nothin' but a good time, da banda Poison, e de outras diversas bandas dos anos 80, trazendo um clima animado para a série, além de carregar mais ainda a nossa nostalgia.

Certamente Cobra Kai, mesmo com seus dramas, se trata de uma série de comédia, fazendo com que possamos dar boas risadas do início ao fim. Mas o que mais diverte, são certamente as referências do primeiro longa da franquia, que não são poucas, e de longe trazem um brilho para a obra.

Momentos como Miguel realizando o icônico golpe final de Daniel, do primeiro longa, ou quando ele chega na festa da escola, usando a fantasia de esqueleto, chegam a arrepiar aqueles que tem um carinho grande pelo filme. Piadas soltas pelos episódios, e suas pequenas referências escondidas, como quando Johnny diz que Miguel pode lavar a janela de qualquer jeito, ou quando Daniel esfrega as mãos, com o mesmo movimento do sensei Miyagi, me fizeram gargalhar. Infelizmente aqueles que não carregam essas lembranças talvez não se divirtam tanto com eles como eu.

Por último, mas não menos importante, está mais um acerto, a série como um todo, trabalha com um assunto que está muito em alta, e que deve ter total atenção: O bullying, e como ele aumenta com o acesso às tecnologias, mostrando que além da história que queremos ver, a série ainda pode trazer boas lições.

Por se tratar de uma comédia, Cobra Kai faz isso obviamente de forma cômica e sarcástica, sem perder a pegada de humor. No fim, temos vários momentos que nos proporcionam boas risadas, e ao mesmo tempo, bons ensinamentos.

Após apresentar o protagonista, resgatando o sentimento de nostalgia, e mostrando seus dramas, a série introduz os novos personagens, os mais importantes aqui são Miguel, Samantha e Robby, o qual falarei mais para o fim da resenha. Miguel é o vizinho de Johnny, (Miyagi referência?) que acaba sendo protegido por ele, meio que de tabela, enquanto Johnny defende seu carro dos agressores do moleque. Já Samantha, é a filha mais velha de Daniel, fazendo o papel da garota boazinha, que passa a andar com as populares da escola.

O foco, e personagem mais importante aqui, é Miguel. Ele não será apenas o garoto principal, e é preciso entender que o papel de protagonista é do Johnny, e não dele. Miguel tem o importante papel na trama, de ser como uma bússola moral para Johnny, sempre apontando para o caminho certo que ele deve seguir, fazendo com que ele veja seus erros e assim possa aprender como agir corretamente.

Miguel que é um garoto humilde e correto, finalmente entra na vida de Johnny, e vendo do que ele é capaz, tem a ideia de pedir para ele ser seu professor (sensei) de karatê, para que assim ele possa se defender das agressões e bullying que sofre na escola. Após um curto período de negação, e motivado pelo desejo de mudar sua vida, Johnny aceita a proposta, sabendo que essa pode ser a única chance de dar a volta por cima.

Neste momento, eu imaginei que Johnny ensinaria Miguel a lutar de maneira “correta”, mas isso realmente iria contra tudo que sabemos dele. A série faz muito melhor, mostrando Johnny ensinando Miguel da forma Cobra Kai de sempre, da mesma forma que ele aprendeu, e sendo a única que conhece. Ou melhor: “Ataque primeiro, ataque com força, sem piedade”.

Trazendo novamente uma excelente dose de humor, a série mostra que Johnny acha que está fazendo o certo, já que para ele, as coisas funcionam assim. Isso fica claro, já que nitidamente podemos ver que conforme o tempo passa, Johnny se apega a Miguel, e mesmo assim, continua com as mesmas pobres lições. E mostra que ele ensina isso como um pai ensina seu filho, e assim como nenhum pai quer ver seu filho se dar mal, Johnny também deseja apenas o sucesso de Miguel.

Mesmo dessa forma errada, Johnny consegue ensinar Miguel a lutar, e o garoto em pouco tempo já mostra que nasceu para isso, mandando muito bem, acabando com os valentões de sua escola enquanto é filmado, o que rende mais alunos para o seu sensei, e mais risadas para nós.

Quando enfim achamos que Johnny está amadurecendo, e vendo seus erros, é que ele mostra que ainda não mudou, e em uma ótima cena, carregada de sarcasmo, onde vemos Johnny xingando seus os novos recrutas da Cobra Kai, temos essa certeza.

A série continua desenrolando situações onde Johnny precisa trabalhar sua raiva, e conforme os episódios passam, vemos os motivos para ele ser assim, e entendemos suas dificuldades, passando a aceitar cada pequeno avanço dele, como uma grande vitória pessoal.

Enfim a série continua seu caminho, e tudo parece estar indo perfeito, temos Miguel que após as reviravoltas se relaciona com Samantha, e os demais “perdedores” da escola dando a volta por cima. Johnny se controlando, conseguindo entrar no torneio, dando conselhos melhores para Miguel, e de certa forma, quase se entendendo com Daniel.

Até este ponto, eu estava vibrando a cada episódio, e foi aí que a série conseguiu me tirar da zona de conforto, como quem diz: “Não vai ser tão fácil assim”.

Este é o momento de falar de Robby. O personagem é o filho de Johnny, conforme a série avança, nosso protagonista entende que foi um pai ausente, e deseja mudar, torcemos muito para o sucesso disso, mas de maneira discreta, a cada episódio que passava, Jon Hurwitz vai nos mostrando que Robby será o personagem da ruptura de nossos desejos, por exemplo:

Desejamos que Robby faça as pazes com seu pai, quem sabe aprenda karatê com ele? - O que acontece porém é que Robby começa a treinar com Daniel.

Queremos ver Miguel vencendo o torneio, sabemos que ele é um bom garoto. Queremos que ele fique com Samantha, e o que acontece? - Ele briga com Robby, por causa disso termina com Samantha, e para piorar a situação, se torna um babaca nos últimos episódios.

Já que entrei nos últimos episódios, é aqui que para mim, a série se perdeu um pouco. Miguel era um dos personagens principais para a trama, ele era como já dito, a bússola moral para Johnny. E o que a série faz, é justamente corromper o garoto, e usar isso como exemplo, para Johnny se enxergar nele, e ver como errou no passado. Mas na minha opinião, Miguel não seria corrompido daquela forma, o roteiro criou um personagem com grandes regras éticas, para em seguida esmagar seus princípios e trazer um garoto maldoso, como o antigo Johnny foi também.

Eu entendo a ideia que a série quis passar, os ensinamentos de Johnny teriam causado isso, e assim foi feito para que Johnny pudesse ver que seus métodos são péssimos, e que ele de fato, precisa mudar. Mas ainda assim, eu não acredito que Miguel teria ido de um extremo a outro, apenas por perder a namorada.

Após finalmente chegarmos no torneio, que diga-se de passagem, trouxe momentos incríveis, como Moicano vencendo sua primeira luta, e Miguel realizando o já citado famoso golpe de Daniel, e aqui o legal não fica apenas pelo golpe em si, mas a forma que foi usado, fazendo para irritar Daniel, e não homenagear, como poderia ser esperado.

Mesmo não tendo gostado dos últimos momentos de Miguel, preciso admitir que o rumo que isso levou foi interessantíssimo, e certamente abre mais ainda mais opções para a próxima temporada, afinal, se tudo acabasse bem, não seria necessário uma continuação.

No final temos Johnny enfim vendo como errou em suas lições, vemos como ele se tornou alguém melhor no decorrer desta primeira temporada, e os novos desafios que isso abre para uma próxima.

Miguel vai se tornar um bad boy como seu sensei um dia foi? Johnny vai ajudá-lo, tendo que ir contra sua própria natureza para ver o garoto ser alguém melhor? Ou será que vai largá-lo e usar todas suas forças para reconquistar seu filho? Daniel vai apoiar Johnny, ou vai contribuir para o afastamento deles?

Muitas questões foram levantadas no fim da temporada, mas a chave de ouro no final, foi a volta de um antigo personagem, o sensei de Johnny, e por que chave de ouro? Simples, foi como um aviso, a série quis dizer: “Isso ainda é sobre Johnny”.

Provavelmente teremos na segunda parte, o sensei de Johnny, que todos imaginavam estar morto, como um grande problema para ele, trazendo várias questões dramáticas para série, e mais possibilidades para trabalhar o protagonista.

Acabando com uma grande vontade de “quero mais”, Cobra Kai acertou em praticamente tudo, trazendo boas lições e muitas risadas. Mal vejo a hora de assistir os próximos episódios, e poder torcer para um dos vilões de uma geração, mostrar que até mesmo os maus tem seus problemas, e podem mudar para melhor.

E quem sabe outras franquias, inspirados na Cobra Kai, vendo o ótimo trabalho feito, possam também trazer conteúdos novos com a mesma originalidade?

Quiet!

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